segunda-feira, 5 de maio de 2014

Candeeiro a petróleo Arte Nova, decisões a ponderar no seu restauro



No início do ano de 2013 recebi uma newsletter, de uma conhecida leiloeira de Lisboa, e nos lotes que iam a leilão vi um candeeiro a petróleo opaline pelo qual me deixei seduzir. O candeeiro em questão não saía da minha mente e decidi ir vê-lo de perto.
O candeeiro é realmente bonito, alto, fundo azul com conjuntos de flores pintadas de muito bom gosto. As estilizações à volta são em fundo branco com realces a ouro, mas infelizmente muito gasto. O queimador era um Kosmos 14”, com a chaminé correcta (marcada: J. d`Oliveira; L. S. Domingos Lisboa 14´´´), com a típica galeria de 8,5cm de diâmetro exterior, mas sem globo ou abat-jour.
A base opaline, o azul, os arranjos florais extremamente bem pintados não saíam da minha cabeça, mas algo me fez dissuadir da sua aquisição. No dia do leilão licitei duas vezes o candeeiro, mas desisti. As comissões cobradas, o imposto e o preço que alcançou não valiam a pena. O estado de desgaste da pintura em dourado retirou o encanto e a qualidade que o exemplar tinha. Outro facto que não mencionei, foi a tinta azul ter sido quase toda apagada à volta da rosca, devido ao polimento contínuo ao longo de décadas. Neste tipo de peças é preciso sempre ter muito cuidado ao polir os metais, de forma a não estragar qualquer tipo de pintura.
Nesse mesmo dia decidi descer à cave e ver outros candeeiros retirados de leilões anteriores. O meu olhar concentrou-se de imediato num curioso candeeiro, ao gosto Arte Nova, aparentemente completo, que estava no meio de tantos outros. Fixei o candeeiro e dias depois fui à leiloeira, para ser mais exacto no dia 5 de Março de 2013.
O exemplar estava intacto: reservatório sem quebras; peças em alabastro(!) em bom estado; queimador a funcionar; montures metálicas (liga de estanho e antimónio) intactas; chaminé invulgar e rara, mas com um cabelo no topo, e um magnífico abat-jour de vidro. O reservatório é só por si uma peça especial, em tom de verde água, raiado de branco. O efeito deslumbrante e sinuoso das manchas brancas, como uma neblina sedutora, denota sofisticação.
As montures metálicas estavam hediondamente cobertas por purpurina, uma forma ingénua e ineficaz de dissimular metal dourado. Este tipo de tinta em metais não resulta com o tempo, tornando-se baça e estaladiça. O seu uso pode ser sublime, como no caso da porcelana, cuja aplicação é mais difícil e encarecida que o ouro em pó.
De imediato veio-me à ideia pintar de preto fosco as montures metálicas, realçando assim todas as outras cores existentes no candeeiro: amarelo do latão, verde e branco do reservatório. No processo de remoção da tinta pôs-se a descoberto a base do reservatório, essa sim em latão polido, o que veio a enfatizar ainda mais a pintura a preto.
O queimador foi limpo e ao mesmo tempo identificou-se o seu fabricante: Hugo Schneider da cidade de Leipzig, já mencionado em anteriores publicações. A chaminé foi cuidadosamente arrumada, visto estar danificada, e constitui um raro exemplar de chaminés Kosmos 14”. A sua raridade prende-se com o facto de terem sido produzidas, segundo alguns especialistas mundiais, pelo menos até à década de 10 do século passado. O seu design invulgar, aparentemente decorativo, tem como finalidade alongar e dar mais intensidade de luz à chama. Em Portugal não se sabe, ainda, como se chamavam estas chaminés, mas na França e Alemanha usavam-se os seguintes nomes: Sans Rival ou Phenomen. Não só havia este tipo de chaminé melhorada como outros modelos disponíveis na altura. O exemplar que veio com o candeeiro tem as seguintes inscrições: F. P. Ferro; Olhão; 14´´´. Este estabelecimento comercial, conforme dá a indicar pela inscrição, não se sabe ainda onde se situava, nem que género era. A chaminé pode ser de fabrico nacional ou importada.


O candeeiro em si parece ser de fabrico alemão ou austríaco, até agora não foi identificada com segurança a sua proveniência.


Seguem as ilustrações do candeeiro no início do seu restauro, o qual não foi dos mais difíceis e dispendiosos que tenho feito.



Candeeiro Arte Nova no dia da aquisição (duas perspectivas).



Base do candeeiro ainda com a purpurina.




Pé metálico, no qual está camuflada uma pedra (parece ser alabastro), e suas sinuosas linhas, duas perspectivas.



O gosto Arte Nova envolve estilizações clássicas, como no capitel coríntio.



Abat-jour e chaminé de vidro, duas perspectivas. O abat-jour é em gomos, com a mesma representação de um pássaro em ramagens floridas, o que constitui um deleite para os olhos.



Reservatório em vidro verde água, raiado de branco, cujo efeito é soberbo. O regulador está devidamente marcado (ao centro estrela de 8 pontas da Hugo Schneider) e tem a seguinte inscrição: * Kosmos Brenner *.




Na próxima publicação continuarei o restauro deste candeeiro, com novas fotografias e algumas notas sobre o movimento Arte Nova.

1 comentário:

  1. Olá
    Estou com um problema sobre um candeeiro de teto arte nova mto lindo que me interessa mas não faço ideia do seu valor. Será que me pode ajudar?

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