sexta-feira, 6 de junho de 2014

Candeeiro alemão século XIX para o XX, um restauro em curso



Numa conhecida feira alentejana encontrei, no ano passado, dois candeeiros a petróleo à venda, um opaline, com queimador Kosmos, e outro em liga de estanho e antimónio bastante elaborado e vistoso, igualmente com o mesmo tipo de queimador. Após perguntar o preço, bastante elevado, desisti e nunca mais olhei para eles.

O candeeiro metálico ficou na minha cabeça, devido talvez à sua imponência e originalidade, e eis que surge um mês depois na mesma feira para me seduzir mais ainda.




Os dois candeeiros em Agosto de 2013 na feira.



O candeeiro opaline não valia a pena por causa do preço, visto se encontrarem ocasionalmente exemplares em feiras, leilões e lojas a preços mais baixos. O candeeiro metálico tinha um certo je ne sais quoi e lembrei-me imediatamente de algumas peças Wedgwood. No mesmo dia fiquei com o contacto do vendedor para um dia me decidir.




O candeeiro na feira.



Na mesma altura surgiu em leilão um par de candeeiros em Lisboa, bronze dourado e cerâmica, provavelmente alemães ou austríacos com queimadores Kosmos desiguais. O seu estado era mau, mas todavia eram bastante interessantes e revelavam um certo gosto oriental. Os queimadores estavam em mau estado, assim como o reservatório metálico de cada um. O preço base era acessível, mas no decorrer das licitações atingiu uma quantia elevada que não compensava o seu restauro.
As minhas atenções voltaram-se de novo para o tal candeeiro da feira, mas o preço teria forçosamente de descer visto o exemplar necessitar de profundos restauros.
Numa primeira análise apontou-se os seguintes defeitos:

- a tinta verde, horripilante e de mau gosto, estava gasta e tinha que ser retirada;

- o queimador da Hugo Schneider está irremediavelmente danificado e não era o original (ver a publicação de 18 de Abril do corrente ano);

- o reservatório não era o original em vidro moldado, mas sim em chumbo e ainda por cima furado para electrificação;

- a chaminé era a desadequada para o tipo de queimadores;

- o globo era de mau gosto e não me seduzia.

Reflectindo nestes pontos debati com o vendedor a descida do preço e finalmente consegui adquiri-lo em Outubro de 2013.
O primeiro passo, logo de imediato, foi retirar a tinta a qual veio a revelar uma surpresa deveras encantadora.




O candeeiro logo após a remoção da tinta.



A revelação foi as peças estilizadas na taça, que camufla o reservatório, serem em latão e conferem um toque de elegância greco-romano ao conjunto. Debaixo da tinta verde pode-se ver o resto da patine original, cor de bronze escuro que o candeeiro tinha. A taça, com os seus altos-relevos, ao gosto clássico e a adição das peças em latão fizeram-me de repente optar por usar um Agni Brenner 20``` da Wild & Wessel de Berlim que tinha de parte. A combinação é perfeita; o cromatismo e proporção são as ideais. Em seguida levantaram-se outras questões:

- deixar o candeeiro como está à cor natural;

- repor a patine original em cor de bronze escuro;

- pintar o candeeiro de preto fosco de forma a realçar as cores existentes nele.

Optei pela terceira solução, novamente inspirado pelo Black Basalt da famosa Wedgwood, a qual ainda não foi posta em prática por ainda faltar restaurar uma das três peças em latão.




Agni Brenner 20```posto no candeeiro, o espalhador está incompleto visto faltar-lhe o chapeuzinho que permite uma chama mais controlada. A galeria que veio com o candeeiro não é a adequada, visto contribuir para uma certa desproporção entre as partes.




Peças desmontadas do candeeiro.




Peças desmontadas vista aproximada, duas perspectivas.



O reservatório foi entretanto soldado, mas o original era em vidro colado com gesso à tampa metálica. Debaixo da rosca do queimador, no interior do candeeiro, há o encaixe para o gargalo do reservatório.
Após esta primeira intervenção constatou-se mais outro pormenor que estava em falta: a taça não tinha qualquer apoio em baixo e só lateral nas peças com as esculturas femininas, através de parafusos. A falta desta peça contribuía para um certo desequilíbrio e sobrecarregava as três esculturas referidas.




Taça sem o reservatório, onde se nota a ausência da peça para equilibrar o conjunto. Umas das peças estilizadas (lado direito) sofreu um restauro um tanto ou quanto tosco, o qual ainda terá que ser refeito no futuro.



Esta peça era essencial e de repente surgiu-me na cabeça usar uma peça em latão que tivesse a mesma medida. O cromatismo era assim mais uma vez realçado e pus-me a pensar na peça perfeita. Num saco cheio de latões encontrei uma peça em latão, que se usa nas camas de ferro para unir o varão e a esfera, e experimentei no candeeiro. A peça encaixava, tem o mesmo diâmetro e altura adequada como teria sido a original. O primeiro passo foi mandar cortar a peça, polir e colocar no candeeiro.




Peça em latão cortada.




A peça em latão cortada e polida no candeeiro, a qual encaixou perfeitamente.



Esta etapa estava resolvida, mas ainda faltava outra muito mais complexa e importante: espalhador original 20```completo para o queimador Agni e a chaminé específica.
O espalhador milagrosamente surgiu num queimador, através de um site de vendas online português, num grande candeeiro opaline. O proprietário chegou a acordo comigo e vendeu-me o queimador, mas a grelha está irremediavelmente danificada, como se verá numa próxima publicação.
A chaminé é muito difícil de se arranjar, mas ainda continuo à procura de uma, visto ter uma forma bastante invulgar.




O queimador Agni 20```completo.



O candeeiro aos poucos foi adquirindo a identidade perdida, mas mesmo assim faltava uma galeria para o globo de 10cm de abertura, que estes queimadores costumam levar. A oportunidade surgiu num site de vendas e leilões online internacional, onde adquiri uma galeria de fabrico inglês antiga adequada a Duplex Burner, Matador 20```, Agni 20```, entre outros queimadores de grande dimensão.
As medidas são cerca de 6.7cm diâmetro interior, 10,2m para globo e 11.2cm diâmetro exterior.




A galeria no dia 19 de Março do corrente ano, assim que chegou pelo correio do Reino Unido.




A galeria já limpa e polida posta no Agni Brenner.




O topo do espalhador Agni com os seus carateres. Estas pecinhas são raras e perdem-se com muita facilidade.





O restauro deste candeeiro tem sido aliciante e compensador, cada descoberta da peça perfeita em falta acarreta persistência e disponibilidade monetária. Este candeeiro tem sido o mais custoso a restaurar, mas por um lado foi isso que me atraiu nele: devolver a identidade perdida.

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